sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009




Rompendo com estereótipos

Estereótipo é uma imagem esquemática, simplificada, superficial de alguma coisa ou pessoa. Essa imagem se nutre de generalizações, opiniões de segunda mão e preconceitos, e se produz e se multiplica irreflexivamente. Não penetra na realidade complexa, rica e contraditória. É uma imagem pré-fabricada e empobrecida que existe e persiste graças à nossa falta de confiança em nossa própria capacidade de observação.
Os estereótipos vêm desempenhando no ensino de arte até os dias de hoje, em diversas escolas do nosso país, os papéis de verdadeiras “ervas-daninhas”, usando uma expressão utilizada por Maria Letícia Vianna (1994).
Essas formas fixadas e padronizadas, como a casinha, a árvore com maçãs, o sol com olhinhos, entre outras; organizam um repertório reduzido de formas, as quais chamamos de estereótipos.
O cotidiano escolar, através dos trabalhos feitos com as crianças desde a mais tenra idade, com freqüência nos apresenta essas formas duras em evidência. Elas são fornecidas muitas vezes por meio de “inocentes” ilustrações para “colorir”. Vianna (1994), assinala que, além do mimeógrafo,

[...] temos diversos recursos para reproduzir estereótipos: todos conhecem processos simples de transferência de imagem de um suporte para outro. Atualmente a máquina xerox faz essas reproduções muito melhor e em menos tempo (1994, p.5).

Toda esta facilidade de reprodução, infelizmente, tem contribuído para alimentar o mundo dos estereótipos! No entanto, uma fotocópia ou mesmo a velha folha mimeografada, poderiam ser utilizadas de uma maneira muito positiva em diversos trabalhos de artes. O mimeógrafo, por exemplo, pode ser utilizado para reproduzir os desenhos que são feitos pelas próprias crianças. A fotocópia pode ser elemento chave na construção de um trabalho no qual queira-se usar a repetição de determinadas formas no espaço, colagens, montagens, etc.
Vale lembrar ainda o que nos adverte Lucia Reily (1989), sobre o que ocorre quando a criança recebe modelos gráficos dos adultos:

[...] ela percebe a diferença na qualidade e firmeza de seus traços com relação aos do adulto, bem como a maior complexidade na elaboração dos esquemas gráficos do adulto. Ao fazer essas comparações, ela sente que seu próprio desenho é inadequado e tenta então imitar o outro (Idem, 1989, p.40).

Na mesma linha de pensamento, Susana Rangel Vieira da Cunha (2002, p.10), refere que “é imprescindível que os educadores infantis se dêem conta de que suas representações visuais influem no modo como as crianças produzem sua visualidade”.
É inquestionável que as duas autoras acima citadas possuem preocupações pertinentes. Mas cabe aqui uma ressalva — isso não quer dizer que não podemos, em momento algum, mostrar imagens produzidas por adultos para as crianças! Até porque tais imagens estão muito presentes no seu cotidiano. Devemos, sim, é ter o cuidado de salientar que aquele desenho ou imagem que estamos mostrando, seria uma das diversas possibilidades de representação de uma forma, pessoa ou objeto. Quanto maior for o número de imagens apresentadas - seja ela produzida por um adulto ou criança de mais idade - com diversificada concepção gráfica sobre o mesmo tema, mais estaremos contribuindo para que esta criança perceba muitas possibilidades de representação e, assim, conceba a sua.
Talvez você ainda possa estar se perguntando: - por que, afinal de contas, os estereótipos são imagens tão negativas nos desenhos? Se as crianças parecem gostar de fazê-los, se os(as) professores(as) não vêem mal no uso deles, se as diretoras e supervisoras de escolas os acham bonitinhos, por que não aceitá-los tranqüilamente?
Vianna (1994) afirma que não podemos aceitá-los, porque
[...] como educadores, acreditamos no poder de criatividade das pessoas, na individualidade de cada ser humano, acreditamos na necessidade vital que a criança tem de se expressar; porque somos contra a acomodação e desejamos a transformação (Idem,1994, p.6).

Esta mesma autora nos apresenta a desestereotipização como um processo possível. Para tanto, é necessário pensarmos em exercícios, propostas de trabalho que afastem a possibilidade dos alunos buscarem essas f[ô]rmas. Ela sugere, por exemplo, que façamos uma “seqüência de desenhos sucessivos, com o objetivo de transformar um estereótipo em um não-estereótipo” (1994, p.6).

Pergunto:
(a) Você identifica estereótipos nos desenhos dos seus alunos?
(b) Vamos fazer uma experiência: aplique a atividade proposta a seguir nas suas turmas.
(c) Depois, registre comentários sobre os resultados aqui e em seu portfólio.


Bom trabalho!

Objetivo

Criar personagens, objetos ou cenários , na tentativa de escapar dos diversos estereótipos que costumam aparecer das formas mais variadas nos desenhos das crianças.

Materiais;
- Canetinhas hidrocor, lápis de cor, giz de cera;
- Uma folha de canson ou sulfite A3;
- Cola bastão ou líquida;

Atividade
Os materiais utilizados para esta proposta são simples, mas desafiam a criança a pensar como reunir, agrupar, ajustar e a relacionar diferentes formas para construção de uma ou mais figuras. Essas figuras, que serão construídas, podem ser heróis,meninos, meninas, monstros, carros, naves, árvores... Enfim, é possível explorar as mais diversas maneiras de construir uma figura.

Orientação da atividade, passo a passo:

1)Pegue uma folha de papel canson A3 e rasgue em vários pedaços.
A folha de papel canson ou sulfite A3 pode ser substituída por duas folhas de tamanho A4, ou tamanho ofício, de preferência que sejam folhas de desenho não muito finas.

2)Os tamanhos e formas dos rasgados devem variar de: pequenos, médios e grandes pedaços...
...e, também, em longos, mais arredondados, triangulares, compridos, sem forma definida, etc.

3)Com estes pedaços de papel rasgado, criem animais, pessoas, carros, objetos, etc.
(b) Podem ser personagens estranhos, como monstros, por exemplo...
(c) Tudo que vocês quiserem fazer aqui é possível!

4)Mas não esqueçam! Agora vocês não podem mais rasgar os pedaços de papel, só podem colá-los uns nos outros.


IMPORTANTE!!
(a) Você deve tentar montar de diversas formas as suas figuras com esses pedaços de papéis,
(b) PORTANTO, PENSE BEM ANTES DE COLÁ-LOS!

5)Esta atividade
pode ser feita com crianças a partir dos 8 anos de idade.
Penso que é importante que você faça a atividade antes de usá-la com as crianças. A criança, então, vai procurar formas que possam ser relacionadas a de um braço, de uma perna, de uma aba de chapéu, uma roda, etc., para poder construir as suas figuras. Depois ou ao mesmo tempo em que a criança cola, ela pode complementar seu trabalho com linhas e usar a cor sobre as superfícies rasgadas e agora montadas.

As imagens que ilustram essa atividade foram feitas por crianças. Observe a inexistência de qualquer estereótipo!

4 comentários:

Anônimo disse...

Bah!! Celso!!! Teu blog está perfeito!!! Já salvei ele nos favoritos e espero ver mais textos.. Ah! E com certeza vamos acabar com os estereótipos em prol da criação em Arte!!

Celso Vitelli disse...

Obrigado Mitsi, atua opinião é muito importante para mim!
Um abraço,
Celso

Anônimo disse...

oi fesor tudo bem !!!! adorei a atividade de rasgar papel e colar vou realizar a experiencia e depois te conto beijus.....

Luciane Bravo disse...

Oi, Celso! Adorei teu blog, os textos, imagens e dicas estão jóia! Creio que tens muito a contribuir. Parabéns pela tua atitude, em repartir conosco tuas impressões e aprendizado.

Celso Vitelli, "Autorretrato em vermelho", 2011.

Celso Vitelli, "Autorretrato em vermelho", 2011.

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, veludo s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, veludo s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, detalhe

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, detalhe

Celso Vitelli, "Anástrofe", 1994.

Celso Vitelli, "Anástrofe", 1994.

Celso Vitelli, "Expectatu", veludo s/papel corrugado, 1994

Celso Vitelli, "Expectatu", veludo s/papel corrugado, 1994
Foto de Elaine Tedesco

Celso Vitelli, "Bixo", 1993, tecido s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Bixo", 1993, tecido s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Silêncio", 1992

Celso Vitelli, "Silêncio", 1992

Celso Vitelli, "Siga Nesta", 1997.

Celso Vitelli, "Siga Nesta", 1997.

Celso Vitelli, "Fêmurs e Fíbulas" ,1998

Celso Vitelli, "Fêmurs e Fíbulas" ,1998

Celso Vitelli, "Criação de adão com bolinhas de sabão" (detalhe), tecido e guache s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Criação de adão com bolinhas de sabão" (detalhe), tecido e guache s/papel corrugado
1993

Celso Vitelli, "O Golpe", 1993, tecido s/papel corrugado.

Celso Vitelli, "O Golpe", 1993, tecido s/papel corrugado.

Celso Vitelli, "Traição", 1993, tecido s/papel corrugado.

Celso Vitelli, "Traição", 1993, tecido s/papel corrugado.