quarta-feira, 15 de abril de 2009

Filme: O Equilibrista

Revista BRAVO! | Abril/2009
Crítica - Um Crime Artístico
O Equilibrista, ganhador do Oscar de melhor documentário, conta a história de uma manhã inesquecível nas Torres Gêmeas

Por André Nigri

Na manhã do dia 7 de agosto de 1974, algumas pessoas olharam para o alto das duas torres do World Trade Center, localizadas no sul da ilha de Manhattan, em Nova York. Não era, em um primeiro momento, fácil identificar o que se passava a mais de 400 metros de altura. Havia um fio e uma espécie de vara sobre ele. Com as nuvens se dissipando e o sol do verão se abrindo, os nova-iorquinos pareciam não acreditar no que viam. Mas eles se maravilharam, assim como o mundo inteiro, quando as imagens foram divulgadas pela televisão. Lá em cima, um jovem francês chamado Philippe Petit caminhava sobre um cabo de ferro suspenso entre as duas torres. Andou por cerca de uma hora. Há momentos em que ele se senta, outros em que se deita sobre o arame. Numa atitude de irreverência, ele acena para os policiais, que subiram para persuadi-lo a dar o fora dali. Àquela altura, no entanto, o espetáculo estava feito, e Petit já ganhara os corações dos milhares de cidadãos de Nova York — que sorriam, entre incrédulos e encantados, com o que logo depois seria considerado o maior "crime artístico" do século 20.

Essa magnífica história é contada no documentário O Equilibrista, de James Marsh, vencedor do Oscar deste ano. Marsh mostra, 34 anos depois, os personagens envolvidos na loucura de Petit. Não só o equilibrista, que simbolizava nos anos 70 a rebeldia jovem da década, mas também seus companheiros. Ele reconstitui minuciosamente como a turma planejou e conseguiu burlar a vigilância do WTC. Petit já colecionava outros feitos. Entre eles, atravessar a catedral de Notre-Dame (entre as duas torres da igreja), em Paris, e a famosa ponte de Harbour (entre suas duas estruturas metálicas), em Sydney, na Austrália — nos dois casos caminhando sobre o arame.

Produzido para a BBC e Discovery, O Equilibrista segue a linha de documentários que não se furtam a recorrer a reconstituições fictícias para completar a história. Se bem usado, como no caso do filme de Marsh, o recurso enriquece a produção por se aproximar da verdade sobre a história. Usando atores nas cenas, o filme reconstitui, por exemplo, o momento em que Petit e um colega se escondem de um guarda sob uma lona no último andar do WTC.

O Equilibrista concorreu ao Oscar com outros quatro documentários. Dois deles abordavam temas caros aos EUA: o furacão que devastou Nova Orleans (As Águas de Katrina) e a Guerra do Vietnã (The Betrayal). É o caso de perguntar por que os feitos de um francês tiveram maior apelo para a Academia. Além da inegável qualidade do filme, é inevitável lembrar que, 34 anos depois, numa manhã igualmente ensolarada do dia 11 de setembro, as torres que serviram para o maior "crime artístico" do século 20 foram o alvo do mais brutal atentado contra a vida humana nos últimos tempos.

O Filme
O Equilibrista, de James Marsh. Estreia prevista este mês.

Celso Vitelli, "Autorretrato em vermelho", 2011.

Celso Vitelli, "Autorretrato em vermelho", 2011.

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, veludo s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, veludo s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, detalhe

Celso Vitelli, "Casamentos Pélvicos", 1994, detalhe

Celso Vitelli, "Anástrofe", 1994.

Celso Vitelli, "Anástrofe", 1994.

Celso Vitelli, "Expectatu", veludo s/papel corrugado, 1994

Celso Vitelli, "Expectatu", veludo s/papel corrugado, 1994
Foto de Elaine Tedesco

Celso Vitelli, "Bixo", 1993, tecido s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Bixo", 1993, tecido s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Silêncio", 1992

Celso Vitelli, "Silêncio", 1992

Celso Vitelli, "Siga Nesta", 1997.

Celso Vitelli, "Siga Nesta", 1997.

Celso Vitelli, "Fêmurs e Fíbulas" ,1998

Celso Vitelli, "Fêmurs e Fíbulas" ,1998

Celso Vitelli, "Criação de adão com bolinhas de sabão" (detalhe), tecido e guache s/papel corrugado

Celso Vitelli, "Criação de adão com bolinhas de sabão" (detalhe), tecido e guache s/papel corrugado
1993

Celso Vitelli, "O Golpe", 1993, tecido s/papel corrugado.

Celso Vitelli, "O Golpe", 1993, tecido s/papel corrugado.

Celso Vitelli, "Traição", 1993, tecido s/papel corrugado.

Celso Vitelli, "Traição", 1993, tecido s/papel corrugado.